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Saturday, February 14, 2009


História de embalar ancestral



Era uma vez a troca directa de bens entre o sapiens,
como havia excedentes e muitas vezes não havia a necessidade de troca directa,
foi criado um símbolo: o dinheiro.
Assim era possível a troca indirecta.

Esse símbolo, embora não fosse um valor real, fruto da produção e trabalho (por exemplo do agricultor sapiens), passou a ser alvo de cobiça.
Casa roubada trancas na porta e apareceu o sapiens que guarda o símbolo: o sapiens banqueiro.
O banqueiro cobrava, e muito justamente, pelo serviço de guardar o dinheiro/símbolo.
O banqueiro começou a emprestar o dinheiro/símbolo para ajudar um ou outro sapiens com algum azar.

Não pediu a nenhum dos proprietários do dinheiro/símbolo que lhe tinham pedido apenas para guardar
e começou a emprestar também o dinheiro/símbolo que não era seu com juros.
Exemplo de juros: Empresto-te 10 conchas/moedas/notas e daqui a duas luas cheias dás-me 11 conchas/moedas/notas.
Em letras pequeninas também existia a obrigação de pagar mais conchas/moedas/notas por cada lua cheia de atraso.
Se não me pagares até ao próximo equinócio dás-me a tua cana de pesca/vaca/casa.

Para o bem e para o mal, sapiens é sapiens
e o banqueiro apercebeu-se que estava a acumular cada vez maisdinheiro/símbolo fruto das,
necessidades primeiro e posteriormente do excedente da produção ou trabalho de outros sapiens.

Também reparou que os sapiens trabalham bem, produzem bem e são realmente uns criadores de riqueza/excedentes
pois cada vez depositavam mais dinheiro/símbolo e não o levantavam.
Nestas alturas prósperas escasseavam clientes a pedir empréstimos.


Quando existia ou se criava a necessidade de uma actividade que mobilizasse muitos sapiens,
como uma guerra,
ou a construção de um monumento simbólico (para que o sapiens se intimidasse ou senti-se identificação com algo maior)
ou uma aventura como os descobrimentos, era necessário ter muito dinheiro/símbolo disponível
para que o resto dos sapiens pudessem comer e comprar os bens essenciais durante a empreitada.

O banqueiro sapiens começou então a emprestar o dinheiro/símbolo que tinha no seu cofre,
não só o que era seu e o que era realmente dos outros,
mas também começou a criar outros símbolos, em papel por exemplo, do que ninguém tinha!
A certa altura da humanidade o banqueiro sapiens já emprestava 10 vezes mais do que tinha sido depositado.

Isto foi-lhe legitimado pelos sapiens que fazem as leis sem que todos os sapiens soubessem
que o aumento da quantidade de dinheiro/símbolo, que afinal era o símbolo do valor real do trabalho e riqueza produzido por todos,
provoca aquilo a que chamariam inflação.
A inflação não é, na realidade, o aumento dos preços mas sim a desvalorização do dinheiro/símbolo.

Enquanto uns sapiens criavam dinheiro/símbolo à fartazana
outros viam que o que tinham prosperamente acumulado valia cada vez menos.
A maioria dos sapiens sempre foi boa gente trabalhadora mas infelizmente educada a acomodar-se (felizmente para outros claro).

O banqueiro sapiens, como não trabalhava e era sapiens, pensava muito e
apercebeu-se que, no fim de uma guerra ou noutras alturas de maior necessidade,
os outros sapiens que trabalhavam estavam já condicionados pela sua educada ignorância e
completamente dependentes da confiança no dinheiro/símbolo
para retomarem ou empreenderem novas actividades.
Muitos deles, devido à desvalorização do seu dinheiro/símbolo,
pela criação de muito mais dinheiro/símbolo precisavam agora de pedir emprestado mais dinheiro/símbolo.

Então o banqueiro sapiens, detentor apenas do símbolo do esforço de todos,
compreendeu que poderia estimular a criação de trabalho/valor emprestando/criando dinheiro/símbolo
e alternar com ciclos em que não emprestava/criava dinheiro/símbolo
para assim amealhar quase quase TUDO.
Primeiro estimulava e emprestava e depois aumentava os juros, não emprestava e guardava.
Rapidamente tudo estagnava e ele, detentor de muito dinheiro/símbolo, comprava quase quase TUDO.

É muito importante dizer que muitos sapiens que trabalhavam em bancos eram, como a maioria dos sapiens,
trabalhadores honestos e solidários.

É também importante relembrar que um sapiens com fome ou escassez de alguma necessidade se pode tornar
mal educado ou até violento.

Alguns sapiens tentaram sempre alertar e até resolver este problema.
Houve até um tal Lincoln que fez a experiência de criar um dinheiro/símbolo novo livre desse sistema e teve a confiança do seu povo
(poucos anos depois do seu assassinato o banqueiro sapiens comprou novamente o sapiens que faz as leis).
E um tal Milton Friedman que ganhou um prémio nobel da economia e que apresentou uma simples resolução para acabar com todo este
sistema especulativo.
E também dizem que houve um Jesus pacífico e bom que chicoteou uns especuladores às portas de um templo.


E foi no século XXI que mais uma vez aconteceu uma recessão financeira
e a maior parte dos sapiens repetia aquilo que lhes era vinculado agora num novo DEUS chamado TV:
"Eram apenas necessários uns retoques no sistema."


Quando um sapiens perguntava quanto trigo/milho/centeio havia? E quantas bocas para alimentar?
Os outros diziam que era muito mais complicado do que isso, mas ninguém sabia explicar bem essa complicação.
O acondicionamento ao símbolo e o proveito que dava a muitos sapiens poderosos impedia a mudança histórica.
Era inimaginável ao sapiens criar algo novo que aproximasse o valor do seu trabalho ao seu bem estar
enquanto este efeito sistémico enriquecia sempre muito poucos.



O sapiens foi mal educado a ser sapiens.




Bons sonhos,

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